Tuesday, September 19, 2006

Masturbação Conceitual


Supôs que seus tormentos pudessem ser fruto daqueles tantos dias que tivesse negado a possibilidade de efetivar sua existência concreta, agora era tarde.
Lembrou de seu pai, Lévi, influenciado por qualquer pensamento francês, tantando buscar a unidade de tudo, a essência das coisas. Acreditou sempre estar fugindo da superficialidade do saber particular, e agora o que restara de seu particular? Agora era tarde...
Karl, aquela bicha velha e barbuda, dizia a ela para relaxar, ver que ao menos se apercebia de haver construído submissões, e que sua bunda continuava tão sólida quanto nos seus 20 anos. Porque dera ouvidos aquele depravado sem qualquer noção de núcleo social, sempre proposto a constituir amálgamas, perguntava à ela a psicóloga. Esta buscava compreender sua psiqué insatisfeita de meia-idade e insistir na elaboração de um fato social convincente. Mas, agora era tarde...
Quis contar à psicóloga - mas como sempre estivera acostumada a omitir certos detalhes, dizia cotidianos, mas não de sua essência; nunca chegara a contar sua relação solitária e sempre instrutiva com seu pai. Se contasse à estudiosa da psicologia que não tivera uma mãe presente, ou parentes e nenhum namorado que tivesse sobrevivido mais que um ano; logo, cairia no conceito do geral da médica.
Certo dia, saindo do consultório da médica, após de, em um surto, ter beijado-lhe a boca e sugado-lhe o corpo.(na verdade, a médica que a havia atacado; já que, a doutora dispunha de uma sexualidade dúbia, capaz de despertar e ser despertada desejo pelo mais frígido ser). Aí, pegou um ônibus, um tanto quanto embriagada pelas ações anteriores. Não sabia para onde ia.
Bem, de fato, sabia que não sairia daquela cidade tão pequena, em cuja estrutura tantas vezes buscara um universo. Achando que compreendendo o todo daquele lugar poderia compreender os fluxos sociais de qualquer outro espaço.
O ônibus balançava causando-lhe enjôo, mas esse sentimento já havia apreendido da estrutura de sua vida; agora, queria algo novo, completamente seu. Passara a odiar como ao observar as pessoas vivendo, percebia o quão iguais todos eram, como todas as ações e reações assemelhavam-se. Porém, agora era tarde...
Porque recém havia posto fora sua única chance de ser única entre tantos desvarios coletivos: as mulheres e sua paranóia em mostrar a independência adquirida; os homens buscando demonstrar uma sensibilidade inexistente; as crianças sendo analisadas por suas paixões internáuticas e televisivas; os referendos pseudo-democráticos despertando nas pessoas a crença de poder discutir as resoluções governamentais. E nos outros lugares? Apenas outras questões rompendo na boca das multidões para forjar o tédio de uma vida tão universal e repetitiva.
Sahlins conheceu ao descer daquele ônibus de idéias. Sem nada falar, Sahlins entregou-lhe um envelope dizendo: "Aqui esta a chave para teus anseios".
Correu atrás do homem, gritando: "Sou Mary, diga-me que és e tudo que sabes. Revele-me a pureza e o perigo de teu ser".
Sahlins entrou em um carro de cor escura. quando o carro já dava sua largada, enfiou a cabeça pela janela e disse: "Apropria-se do geral sem perceber que o faz a partir de teu particular".
Mary não podia compreender aquelas palavras. Agora era tarde...
Se tivesse sido uma menina pura, conformada em estar encaixada nesta teia social...quem sabe até ter sido educada por freiras...Agora era tarde demais.
Estava cansada das teorias confusas que nada faziam a não ser complexar seu viver. Até mesmo a linguística e suas máscaras insistiam em forjar situações persuasivas em diálogos ditos informativos.
Um parar de mundo era insuficiente pois tudo haveria de recomeçar. Em algum local, uma forma de vida construiria suas malditas regras de inclusão e exclusão. O que tinha que decidir era se agora estaria aliada aos perigos que intentavam implodir esta teia social; ou à pureza tão atrelada e costurada? Now it was too late...

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