Friday, November 10, 2006

Um bater de asas


Fujo das horas mortas do relógio que pesam insolitamente sobre os meus ombros nus. Nada há que possa ser feito. Uma borboleta azul pousa na janela e vejo uma faísca de vida.
Decido seguir aquele inseto. Suas asas preguiçosas fazem-me vencer minhas pernas
desmotivadas. Quero recuperar o motivo de meu afeto. Mas, a cada dia que passa, as horas tornam-se vazias e meu coração empedra.
Subo a barulhenta Borges de Medeiros, o forte sol do 12h causa-me náuseas. Preciso voltar a comer.
A borboleta parece-me zonza, todavia contorna a esquina e adentra a rua das Andradas. Receio perdê-la de vista, pois, senão por ela, pereceria este resquício de força que me impele neste caminho.
Aqui, onde tantas vezes provei dum pout pourri de sentimentos, agora, somente a verdade de um nada profundo, um grito contido em um corpo morto.
Deparo-me com uma feira de livros, obras e obras de renomados escritores ou não empilhadas em stands, o fluxo de pessoas atropela a minha tentativa de vida. A borboleta some entre a multidão de seres. Estou apavorada.
O suor escorre grosso pelo meu corpo. Minhas pernas amolecem. Giro ao redor de minha forma fugidia. Quero explodir, implodir! Vejo imagens de meu falecido amante entre artesãos na calçada. Mas sei que não há de ser fato, é delírio.
Esbarro em um palhaço, derrubo os livros de uma banca. O ser teatral não me percebe, mas eu o percebo. Sim, não pode ser loucura! É real! É ele! Pedro, homem que em mim fizera brotar amor e saudade.
Sigo-o compulsivamente pelas artérias que pulsam do coração da cidade. A borboleta perde-se de meus pensamentos, que agora focam no desvario de reencontrar aquele ente.
Lá se vai ele saltitante, a malabares e piruetas, provoca risos e estranheza a quem seu caminho cruza. Não quero que me veja: apenas admirá-lo, para apreendê-lo como única verdade.
Um pulsar que se acelera e então uma vontade quase tímida de desvendá-lo e sorver seu membro ereto, com deleite. Amar-nos como dois animais, tal qual outrora fazíamos.
Entra em uma casa antiga, parece um teatro. Fico a sua espreita, espiando-lhe por uma fresta na cortina da janela. Vagarosamente, ele vai libertando-se das vestes. Preciso conter meus ânimos. Suas longas madeixas louras agora caem sobre seu peito nu, intento dar-lhe mordidelas no bico dos mamilos, nos ombros, no corpo todo.
Suas grossas coxas vão mostrando-se ao meu olhar faminto. Recordo quando lambia-lhe as pernas até alcançar as virilhas, as bolas contraídas em excitação e o membro...rijo, forte, viril. quero engolir-lhe todo em uma bocada!
Apercebo-me em plena rua a acariciar-me. Toco meu clitóris durinho como um pênis ereto, com toques suaves e descompassados. Tenho medo, dor. Meus bicos dos seios intumescidos. Um líquido, deslizam meus dedos feito escorregão.
Estou desfeita do todo, somente à lembrança de nossos sexos unidos, atenho-me.
Sinto um olhar que me acusa desejo. Retorno. Da cortina, Pedro, sorrindo. Agarra-me pelo braço e leva-me para dentro da casa. Estou úmida e quente. Beija-me a face docemente com seus lábios carnudos. Rogo-lhe com os olhos inflamados que me devore, logo!
De pé, levanta minha coxa direita, já despida, puxa minha calcinha para o lado e penetra-me forte, intenso e profundo.
Tamanha é a delícia em que me revolvo. Encontro-me em estado de êxtase e entusiasmo. Quero novamente explodir, implodir, só que para espalhar a todo o mundo esta sensação de deleite adquirido.
Tonta e ébria de amor, fecho os olhos, não sei mais de mim, de nada.
Percebo então um bater de asas da borboleta azul. Abro os olhos. Estou só em meu apartamento imundo.
Em um tapa explosivo mato aquele inseto encantador. Agora, sei que quero e posso prosseguir, sozinha.